Fábrica de Arte Marcos Amaro

EXPOSIÇÃO / passada

Costuras Abertas: Arthur Bispo do Rosário em diálogo com o acervo

Costuras Abertas: Arthur Bispo do Rosário em diálogo com o acervo

Arthur Bispo do Rosário em diálogo com o acervo Fábrica de Arte Marcos Amaro

Arthur Bispo do Rosário criou em vida um conjunto de obras que consiste em uma grande coleção de objetos que ele desenvolveu a partir de utensílios recolhidos no refugo da Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico onde o artista viveu grande parte de sua vida, no Rio de Janeiro. Trabalhando como um grande arquivista que coletava pedaços da vida cotidiana, Bispo do Rosário criou, ao longo de cinco décadas, colagens, estandartes, objetos, mantos e vestimentas para levá-los à luz, no reino dos céus.

Para a exposição Costuras Abertas, a Fábrica de Arte Marcos Amaro, em comodato com o Museu Bispo do Rosário, relaciona o trabalho do artista com obras do acervo da instituição, como: Nhô Caboclo, Arjan Martins, Luisa Almeida, Giovanni Battista Castagneto, Josafa Carneiro das Neves e Leonilson, a fim de expandir a observação de seus impulsos criativos para além da sua condição. “Não é a loucura que faz o sujeito virar artista. Ele é artista e, por acaso, é louco, esquizofrênico”, disse certa vez Ferreira Gullar sobre Arthur Bispo do Rosário. Escapando às nossas tentativas de definição, entre o delírio e o visionário, o trabalho do artista nos apresenta cada vez mais camadas de complexidade para compreender questões contemporâneas.

Uma primeira leitura possível remete diretamente ao título da exposição. Localizado em uma antiga fábrica de tecidos, a instituição carrega em si uma das principais materialidades das criações do artista: os têxteis, situando a obra do artista em contexto direto com o espaço expositivo. Após a decisão de, por conta própria, trancar-se por sete anos em uma das celas, Bispo do Rosário utilizou-se de agulha e linha para bordar a escrita de seus estandartes e fragmentos de tecido, cujas linhas azuis características de seus bordados, o artista desfiava dos velhos uniformes dos internos.

Lutas e condecorações, trabalho central da exposição, é um casaco minuciosamente bordado que mistura uma série de medalhas de honrarias com inscritos que questionam as leis dos próprios homens, em um caráter íntimo e individual. Um memorial em si, que contempla tanto os grandes feitos daquele que lutaram por um ideal de nação, quanto celebra àqueles que foram e nunca mais voltaram. As vestimentas também tem peso importante nos trabalhos de Luísa Almeida e Josafa Neves. Aqui, as roupas dos personagens retratados atuam como símbolos de liberdade e resistência de um povo que luta por ter sua cultura e existência desmarginalizada em um país que insiste em não rever seu passado escravocrata. Bispo do Rosário, inclusive, carregava consigo todos os estigmas de marginalização social ainda vigentes em nossa famigerada sociedade – negro, pobre, louco e asilado em um manicômio.

Em uma outra camada interpretativa, a exposição nos guia por uma discussão sobre pertencimento, memórias e diáspora. Nesse sentido, o conjunto de trabalhos de Bispo de Rosário que engloba um mapa da África, um veleiro e estandartes de misses africanas estão diretamente em diálogo com as obras de Arjan Martins, Castagneto e Nhô Caboclo. Trabalhos que percorrem a cartografia e os formatos navegatórios, que chegam como elementos muito significativos para tratar questões migratórias e coloniais. Já na série Miss, podemos reconhecer a tentativa do artista em jogar luz para os padrões de beleza centrado na branquitude, nos fazendo enxergar outros corpos como possibilidade de referência. Ao criar um espaço de pertencimento, Bispo do Rosário cria um local não somente de liberdade, mas ao enxergar o povo negro como potência, o artista aponta para que um grupo social possa ser reconhecido é preciso trazer dignidade para suas existências.

Por fim, ao fundo da sala observamos um trabalho de Leonilson, que traz a inscrição “objetos de mártir”. Não obstante, a obra que também traz alguns desenhos de objetos em sua composição é circundada por uma instalação de objetos de suplício confeccionados por Bispo do Rosário. Ambos artistas, que carregaram em si o peso da própria existência, refletem em suas obras questões sobre a complexidade do próprio existir. Partindo de um lugar íntimo, da coleta de materiais remanescentes do hospital psiquiátrico, tais como: palmatória, lenha, frigideira, algema e chicotes, Bispo do Rosário nos aponta que aquela catalogação do seu cotidiano diz diretamente sobre a condição que foi imposta a muitos de seus semelhantes.

Arthur Bispo do Rosário conseguiu, em sua genialidade, subverter a lógica excludente propondo, a partir da sua obra, a ressignificação do universo íntimo e particular em questões que se esbarram na urgência de um revisionismo histórico, transformando “as vozes que lhe diziam que chegara a hora de representar todas as coisas existentes na Terra para a apresentação no dia do juízo final” em um conjunto de obras que nós aponta que esse momento aguardado pelo artista é o aqui e agora.

Carollina Lauriano

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