Fábrica de Arte Marcos Amaro

EXPOSIÇÃO / passada

Hipostasis; Considerações sobre o avesso

Pola Fernandez

Pola Fernandez

Artista chilena radicada no Brasil, Pola Fernandez realizou uma residência artística no Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, do Rio de Janeiro, depois de ter sido selecionada pelo Edital da Fábrica de Arte Marcos Amaro, do qual é o sexto e último nome contemplado.

A presente exposição resulta desse processo, ocupando, simultaneamente, dois espaços ressignificados pelas artes: a antiga fábrica têxtil onde hoje funciona a FAMA e o local preenchido por um dos maiores manicômios do país, a Colônia Juliano Moreira, hoje sede do Museu Bispo do Rosário – onde viveu por 50 anos o artista que dá nome à instituição.

Arthur Bispo do Rosário desfiava uniformes do manicômio e, deles, fazia linha, para bordar e recobrir seus objetos. O tecido do uniforme é, também, um produto da indústria. Sua ação de desfazer o tecido tinha uma motivação prática: aproveitar o fio para criar. Nós lemos seu gesto de forma metafórica e percebemos essa ação como uma desconstrução simbólica de ambas instituições disciplinares: manicômio e fábrica. São as instituições disciplinares que Bispo desfaz.

Pola Fernandez busca nas paredes do antigo manicômio e da antiga fábrica as texturas e cores provocadas pelo desgaste da passagem do tempo, assim como os pontos de contato, de atrito, que reúnem as duas instituições. O que se vê por fora é o avesso da memória desses lugares. A parte não exposta do mesmo tecido da vida. Aquela que toca a pele, fricciona as feridas e absorve os odores e as secreções dos corpos que se quer docilizar.

Seu processo de criação envolveu artistas, além de usuários e profissionais do serviço de saúde mental. Começou com o olhar que mirou no fundo e se deixou ser olhado de volta. Pola experimentou variados suportes, pigmentos, escalas, texturas e dimensões, fazendo uso de materiais que colaboraram para a sua primorosa qualidade plástica. Revirou os avessos em uma ação utópica, esta de fazer arte. Penetrou as camadas que recobrem as paredes e os espaços das duas “fábricas”, as quais, em algum momento, aproximaram-se na maneira de confinar – uma pela saúde mental e a outra pelo trabalho operário. Com isso, nos devolveu a urgência de tocar as texturas dos mundos que se desfazem para se refazer.


Diana Kolker e Ricardo Resende
Curadores

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