Fábrica de Arte Marcos Amaro

EXPOSIÇÃO / passada

Ontologias

Abertura: 14 de novembro de 2020

Ontologias

As relações entre desenho e pintura têm, na chave da complementação, sua fala mais usual. Em consequência, traz o par projeto-obra e marca a distância entre os degraus do pensar, e do fazer. Neste arranjo o que cabe na obra está implícito no projeto. O moderno nos mostrou o desenho encarnado na pintura, sem que se possa desunir esse corpo e alma do fatal abraço.

Pensar o desenho na produção de Marcos Amaro de 2020 requer uma lógica outra. Aqui, o desenho em sua autonomia nada representa. Como fio condutor de pulsões, liga alumbramentos da vida psíquica ao papel, lugar de encontro de figuras do desejo, sem o retoque da racionalização. Frente à pintura, este desejo-desenho é um disparador, cujos traços, enervamento condutor, liga brotas da memória e da existência à superfície do suporte, pele da pintura.

A conversão de ações da pintura em ações do desejo envolve derivações, rearranjos, quase apagamentos, retomadas. Figurantes e protagonistas em comutação de papéis, se ressignificam e relocam-se em outros riscos de imaginário. O processo da pintura move, passo a passo, o percurso em espiral, até então improvável . O que transborda da vida se envasa na pintura até atingir o nível de equilíbrio entre o limite do pintor, e o limite da pintura. Atinge-se, assim, a cada nova obra um novo trecho da espiral em que o pintor, ao devotar-se a pintura, é por ela recriado como ser-pintor. Ao girar um pouco mais a mó deste engenho que se inventou no movimento motriz do ser-pintor, no sendo e fazendo a pintura.

Estabelecidas em seu conjunto, as pinturas não se expõem a classificação a priori, e sim ao olhar isento de enquadramento – por não percorrerem caminhos já batidos, colocam-se distantes de estéticas emolduradas. Distantes do caminho que introduziu o Objeto da Pintura em lugar do objeto da natureza, presente em obras emblemáticas, desde a sua aparição nas telas do cubismo, e que, na continuação, toma outro viés na relação dialética entre cubismo e expressionismo.  Aqui, refiro-me a chave estética extensa e mutante, que resultou da rivalidade entre a natureza da pintura e pintura da natureza. Este processo que seguiu determinou pinturas e imaginários outros, ao garimpar na existência suas figuras. Esta chave acolhe exemplarmente a pintura de Bacon e, nas letras, o texto de seu êmulo, Beckett.

Outro caminho que, na classificação fácil pode ser tomado como próximo, é o caminho do Expressionismo Abstrato. Entretanto, não lhe cabe. Ali, flagra-se o gesto de sedução exibicionista, a ausência de conteúdo existencial, que em nada se aparentam com a pintura de Marcos Amaro. Sua pintura inicia-se no embaraço de linhas, geradas entre a pulsão e o afeto, modulada pelas demandas da existência. O mosto formado amadurece entre clarificações e sombreamentos, entre mergulhos e emergências. Nesse movimento tudo se processa simultaneamente, e provoca o afrontamento entre síntese e contradição. Este movimento, fundamentalmente centrípeto, cria um sistema que, passo a passo, se distancia do entorno rumo ao eixo, até tocar a solidão. Singular caminho de individuação no qual a obra, finalizada, encontra a si própria e repele iluminador externo. Essa pintura se manterá intocada por luz incidente de qualquer natureza ou intensidade. Esta pintura nos imporá à luz imanente, à luz da existência que, a si mesma ilumina.

Antonio Helio Cabral – Maio 2020

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